segunda-feira, 24 de novembro de 2008



Todas as cousas que há neste mundoTêm uma história,
Excepto estas rãs que coaxam no fundoDa minha memória.
Qualquer lugar neste mundo temUm onde estar,
Salvo este charco de onde me vem Esse coaxar.
Ergue-se em mim uma lua falsaSobre juncais,
E o charco emerge, que o luar realçaMenos e mais.
Onde, em que vida, de que maneiraFui o que lembroPor este coaxar das rãs na esteiraDo que deslembro?
Nada. Um silêncio entre jucos dorme.Coaxam ao fimDe uma alma antiga que tenho enormeAs rãs sem mim.

Fernando Pessoa, 13-8-1933.

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