quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Ilumine-se!



JORNADA AO ESTADO DE UNICIDADE
Experenciando os níveis de consciência e o Yoga



Todos os caminhos do Yoga convergem para a condição autêntica do ser. Esta é a condição essencial de cada pessoa, algo que está além das construções e constituições egóicas. A jornada interior consiste em um freqüente despir-se de camadas.

O Yoga identifica o indivíduo como que vivendo em um estado inautêntico, o que o deixa despreparado e perdido em meio ao universo fenomênico.

A jornada do Yogin se inicia quando ele se senta em uma posição confortável e deixa de alimentar seus sentidos com os estímulos externos, unidirecionando sua percepção até que em determinado momento o fluxo de pensamentos e o ego vão sendo deixados para trás. Como ovelhas tresmalhando-se pelo prado que se torna cada vez mais verde, brando e vazio.


"Assim sentado, domina a sua mente e dirige o pensamento a um ponto de concentração, retendo, ao mesmo tempo, as impressões dos sentidos e não deixando entrar na mente pensamentos que vagueiam. Nessa posição, conservando calma e persistência, purifica a sua alma, dirigindo a consciência ao EU, ao Absoluto, que é o fundamento de todos os seres." Bhagavad Gita, VI-12.

O senda interior vai sendo desobstruída à medida que novos estados de consciência vão sendo conquistados. Como um botão de flor que segue desabrochando camada por camada de suas pétalas até o perfume de seu íntimo possa ser revelado.

Os primeiros Upanishads, surgidos por volta de 1500 a.C, tratavam essencialmente do conhecimento sobre O Absoluto (Brahman). Estes mesmos textos discorriam sobre quatro estados de consciência, que similares aos degraus de uma escada levam à percepção do Absoluto.

O estado de vigília é conhecido como Jagrat; em seguida conquista-se o estado de swapna, ou sono sem sonhos; então é possível penetrar o estado de sushupti, sono profundo e finalmente atinge-se o luminoso estado de túrya.

Em sua exposição sobre o Yoga, Patañjali afirma que Yoga é a supressão dos movimentos da consciência vulgar, de forma que o Eu possa repousar em sua verdadeira natureza, enquanto isso não ocorre o individuo tem sua percepção borrada por tais oscilações.


O Chandogya Upanishad é uma obra bastante anterior ao Yoga Sutra, mas compartilhava o mesmo ponto de vista ao supor que as águas e as montanhas meditem. Meditam porque repousam em sua própria natureza, não criam mitos sobre si próprios, não há oscilação em "sua consciência", não há ego.

Potencialmente já nos encontramos em um estado iluminado, já estamos essencialmente onde devemos estar, mas somos incapazes de vivenciar este estado enquanto a consciência (chitta) estiver à deriva, levada pelos movimentos (vrittis) que se relacionam com nossos condicionamentos, desejos (vasana) e impressões latentes no subconsciente (samskara).

Os direcionamentos rendidos pela influência do inconsciente e subconsciente são responsáveis pela perda da liberdade do indivíduo. Estas impressões estão embrulhadas pela ignorância.

Somente quando nos permitimos lançar nossa visão para o que há de mais íntimo em nosso ser, fechando as portas dos sentidos para os estímulos externos através de técnicas eficazes é que vamos aos poucos nos aproximando de nosso estado autêntico.

Para que alcancemos este estado precisamos penetrar em níveis de consciência favoráveis ao rompimento com a visão limitada e fragmentada que dá origem à distinção entre sujeito e objeto. Este estado de super cognição descortina a verdadeira natureza do Ser, como pura Consciência.

Segundo o Samkhya Karika o buddhi (intelecto) é responsável pela distinção entre Natureza (pradhana) e Pura Consciência (Púrusha).

No Brihad Aranyaka Upanishad o sábio Yajñavalkya usa a imagem de um peixe que se desloca entre as duas margens de um rio, fazendo uma alusão ao fato do indivíduo transitar entre os níveis de consciência, estando ora no estado de vigília, ora penetrando swapna (sono sem sonhos).

O estado de transição da consciência conhecido como swapna ou taijasa (sono sem sonhos) recebe este nome por ser caracterizado por uma sensação de adormecimento, muito embora o yogin permaneça desperto e atento durante todo o tempo.

O estado conhecido como sushupti ou nídrá(sono profundo) é caracterizado pela sensação de desaparecer do ambiente e do próprio corpo, neste estado os insights surgem como raios que iluminam o psiquismo.

O quarto estado, túrya, caracteriza-se pela experiência da bem aventurança (ánanda) e o yogin tem a sensação de inundar-se de luz, sensação de unicidade com o Universo. Neste ponto os opostos são diluídos, não há distinção entre sujeito (aham) e objeto (idam).

Segundo o Hatha Yoga Pradípiká neste estado de consciência (túrya) o tempo não pode penetrar. Isto se deve à sensação de não localidade, não sujeição ao tempo.

O Yoga nos oferece o mapa para este feliz mergulho na Totalidade com a mesma intimidade esbanjada por um pardal que se banha e refresca em uma poça de chuva.



Fabio Goulart

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